Rio - O presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, desembargador Castro Aguiar, suspendeu, até a próxima quinta-feira, a decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro que havia determinado a retirada das tropas do Exército do Morro da Providência, no Centro. Até a data, a Administração Federal deverá apresentar uma solução definitiva para o problema.
Castro Aguiar estabeleceu algumas restrições para permanência dos militares na favela. Nesse período eles só poderão ficar na rua Barão da Gamboa, onde são executadas as obras do Projeto Cimento Social e estão proibidos de atuar na segurança pública da comunidade.
A atuação do Exército no local "não poderá alinhar-se em situação de exercício de segurança pública, nem em situação de garantia da lei e da ordem, resguardada apenas sua atuação meramente administrativa, no restrito âmbito do que requer a consecução do convênio (referente ao projeto Cimento Social) e a segurança do pessoal e do material militares envolvidos", impôs o desembargador.
Ele tomou a decisão após avaliar o recurso da Advocacia Geral da União que pedia a permanência dos militares na favela. Castro Aguiar teve uma reunião nesta sexta-feira com as mães dos jovens mortos após serem entregues pelos 11 militares a traficantes do Morro da Mineira.
Nesta quarta-feira, a juíza Regina Coeli Medeiros de Carvalho, da 18ª Vara Federal do Rio, havia determinado a retirada imediata dos soldados da comunidade, permitindo só a permanência de engenheiros do Exército que atuam nas obras do Projeto Cimento Social.
Notificada, a Advocacia Geral da União entrou com recurso pedindo a permanência dos soldados na favela. O ministro da Defesa, Tarso Genro, disse ontem que se as Forças Armadas deixarem o local as obras serão paralisadas.
Assassinatos brutais
Marcos Paulo da Silva Correia, de 17 anos, David Wilson Florêncio, de 24 anos, e Wellington Gonzaga da Costa, de 19 anos, voltavam de um baile funk, na manhã do dia 14 de junho. Segundo testemunhas, eles foram detidos no Morro da Providência, Centro do Rio, e entregues por militares do Exército a um grupo de traficantes do Morro da Mineira, no Estácio, Zona Norte.
Os três foram torturados e mortos. De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML), Wellington teve as mãos amarradas e corpo perfurado por vários tiros. David teve um dos braços quase decepado e também foi baleado. O menor morreu com um tiro no peito e foi arrastado pela favela com as pernas amarradas. Os corpos foram encontrados no dia 15, no lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Os 11 militares envolvidos no caso foram presos. Eles dizem que foram desacatados pelos três rapazes e que não desejavam a morte deles; queriam apenas que recebessem um "corretivo" dos traficantes.